quinta-feira, 10 de junho de 2010

O retorno dele

Ele acabara de sair de seu treinamento. Havia passado mais tempo do que o esperado, muito mais na realidade. Pensava se ela estaria esperando-o, certamente que não. Um ano havia corrido sem que ele desse nenhuma notícia, ela já deveria ter continuado sua vida e não deveria mais se lembrar da sua existência. Não se lembraria que havia prometido esperá-lo o tempo necessário para que ficassem juntos.

Não, ela não se lembraria dele.

Mantinha a esperança de que ela ainda pensasse nas longas conversas que tiveram antes da sua partida, mas no fundo de seu coração sabia que isso era quase impossível. Ela não o teria esquecido mas não nutriria ainda toda aquela paixão que demonstrou quando começaram a se conhecer. Ela se lembraria dele apenas como um amor que passou.

Quando ele partiu, passou algum tempo pensando se estaria fazendo a coisa certa, se deveria mesmo partir. Mas queria seguir seu sonho e não poderia abdicar mais uma vez de algo tão importante. Ele salvaria vidas, era o que acreditava. Sentia-se capaz de tudo após todo esse tempo longe do mundo. Poderia conquistar nações, mas não sabia o que falar para ela, seu objeto de desejo longínquo que ainda acendia nele a paixão da primeira palavra que trocaram. A primeira de muitas que vieram e que viriam se ele não tivesse ficado tanto tempo longe.

Procurou o papel com o numero de telefone que havia guardado em seu uniforme desde o primeiro dia de clausura. Guardara como uma relíquia ou um santo que lhe dava forças para pensar em um retorno. Não abrira o papel até aquele momento, no qual decidira ligar para ela.

Os traços da caneta já estavam quase que apagados, mas ainda conseguia ler os números. Apenas um telefone, sem nome, sem maiores indicações. Não precisava de nada para se lembrar dela, apenas de seu desejo.

Sim, estava na hora, deveria ligar e explicar o que o impedira de ouvir sua voz antes, precisava ter a certeza de que ela se lembraria de suas promessas de amor futuro. Quando pegou o telefone e discou teve medo. Ouviu o toque, diversas vezes. Ela não atendia. Tentou novamente. Caixa postal. Acreditou em destino e que cada coisa aconteceria na sua hora. Não deixou recado, saiu e continuou a andar na noite escura.

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