sábado, 21 de janeiro de 2017

Breaking up

Quando eu comecei a pensar sobre o assunto, o título me veio em inglês.
Vai entender. Eu não moro em um país anglófono e o inglês não é minha primeira língua. Mas o nome me veio em inglês.
Talvez eu não saiba terminar relacionamentos em francês. E em português está mais do que provado para mim mesma que eu não sei fazer.

Hoje eu tive um break up que veio de um mal-entendido.

Eu sempre achei que mensagens fossem um péssimo meio de comunicação. As palavras não respeitam o tom que você quer dar nelas. As mensagens enviadas por telefone não conseguem explicar exatamente o que você quer dizer. Você tem que escrever "lol", "mdr" ou colocar carinhas que demonstrem seu sentimento com relação à mensagem. Mas nem sempre isso funciona.


Hoje eu não tive ao menos tempo de entender o que estava acontecendo.

Como sempre, a cada discussão, eu tento dar um passo para trás, respirar e entender os motivos do outro. Sim, eu sou boazinha. Trop bon, trop con, como dizemos por aqui. E eu fui, pisando em ovos, respondendo minhas mensagens enquanto estava no trabalho. Mas as mensagens tratavam de um assunto que je tiens à coeur: meu amor maior, tudo o que pode ser de mais sagrado na minha vida. Meu filho. Vir falar de como eu educo ou cuido do meu próprio filho é inexplicável ao ponto que só quem tem algo de tão precioso na vida consegue entender.
Eu já briguei com uma amiga que perguntou se meu cachorro - que é o filho - poderia estar com pulgas! Eu pergunto se o filho dos outros está com piolho?

Hoje limites foram ultrapassados e pertences foram devolvidos.

Passei o dia pensando no que tinha acontecido. Em cada palavra, cada mensagem. Tendando entender aonde que teríamos ultrapassado a linha do amor para uma relação tensa, aonde cada um tem que procurar as palavras pois o outro pode não entender.

Hoje, como a cada separação que vivo, peguei tudo o que não me pertencia, todas minhas promessas e coloquei em uma sacola.

Depois de um dia de trabalho, não sabia o que me esperava em casa. A volta foi mais decepcionante do que eu esperava. Eu entendi suas últimas mensagens. Eu entendi que você estava dizendo adeus. E eu entendi suas razões. Não é culpa minha nem sua. A culpa é de todo o contexto que te nos faz ficar com os nervos à flor da pele. eu te entendi da primeira vez e te entendo agora. Mas agora acredito que o adeus seja verdadeiro.

Hoje eu chorei por nossa separação. Eu me irritei, eu criei nossos diálogos em um monólogo. Eu pensei em tudo o que queria te dizer. Eu separei tudo o que tenho seu em minha casa, seus pertences, minhas promessas e meus desejos.

Hoje eu percebi que tudo o que nos falamos valeu. Que você faz parte da minha vida. Que você e seus filhos vão fazer falta na vida do meu filho. E na minha.

Adeus.

segunda-feira, 12 de setembro de 2016

A arte do sono

Sabe aquela sensação boa de moleza logo antes de dormir? Quando você se sente bem e em segurança para abrir mão de tudo e simplesmente deixar o sono acontecer. Quando se sente o corpo mole, sem forças ou vontade de levantar. É aquele se entregar diretamente ao sono, sentir, deixar ele chegar e se instalar.
É o corpo pesado, em câmera lenta, sem saber se é sonho ou realidade. É encontrar a posição perfeita daquele momento. Abraçar seu cachorro, uma pelúcia ou seu namorado. Ou todos ao mesmo tempo agora. É se sentir bem. Sentir-se naquele estado gostoso que só nos sentimos em casa, em nossa cama, em nossos lençóis. É o não existir, é o  nada além do descanso, da plenitude completa que pode existir de uma noite perfeita de sono.
É a perfeição da cada noite dormida.

domingo, 21 de agosto de 2016

Jack



Comprimido, oprimido. É aquele aperto no peito que você não sabe como fazer pra passar. É aquela angústia que te impede de comer, de respirar, de viver.

São todos os pensamentos que te passam pela cabeça na hora de dormir. São as autocriticas, automutilações emocionais. São todos os momentos em que você pensa que seria melhor simplesmente desistir, deixar de existir. E você chora, se desespera, sente dor.

Em meio a todo esse horror, você levanta a sua cabeça e percebe que ele esta te olhando. Deitado em seu canto, ele te olha e te entende. Ele se levanta e vem colocar a cabeça no seu colo, vem te chamar para prestar atenção na beleza da vida. Ele te beija com todo o amor que você poderia esperar de outro ser. Ele te ama e ele demonstra. Ele quer estar ao seu lado. Ele faz com que você esqueça os problemas e que pense somente naquele momento.

Ele faz você querer viver, querer amar em retorno, querer existir. Ele é o único elemento da sua vida que faz sentido e faz todo o resto fazer sentido. Ele te ama, e isso basta para vocês dois.

sábado, 20 de agosto de 2016

50 páginas



Calor me dá sono.
Parece que quanto mais o termômetro aumenta, maior é meu cansaço.

Eu tomo duas, três e já cheguei a quatro doses de cafeína pura, energético, guaraná em pó, estimulante para exercícios e chá preto. Alguns deles combinados, outros sozinhos haja vista a composição de cada um. Eu quero ficar acordada, não morrer. Ainda não.

Mas ainda assim sou capaz de dormir 10 horas seguidas logo depois.

Eu me esforço, sento, leio duas linhas e o sono bate. Escrevo um e-mail, bebo água gelada, olho pro lado de fora e nada do sono passar. Eu invento o que fazer para movimentar o corpo e quem sabe animar um pouco, mas nada. Exercícios, limpar a casa, arrumar a geladeira, organizar o armário, organizar os papéis, tudo que me faça produzir algo de útil.

Volto pro computador, escrevo mais duas linhas. Penso que se não avançar em pelo menos 50 páginas, não poderei continuar meu doutorado. CINQUENTA páginas. Não deveria ser nada. Estou na décima terceira com muito esforço (um ano pra escrever essas treze pequenas páginas, agora imagine cinquenta).

Acabo me desviando dos meus objetivos primários.

Deveria ser mais fácil agora que somos só nós dois, não?

Eu te olho, você dorme enquanto eu trabalho. Eu adoro ver você dormindo. Adoro sentir sua respiração com a minha mão enquanto você dorme. Adoro sentir sua presença na casa. Há nisso algo reconfortante, que me faz sentir segura de tudo. Por você eu aprendi a dormir com a porta do quarto aberta, a acordar cedo para andar, a pensar no futuro distante, a querer nadar mesmo que a água esteja fria.

Você me faz querer avançar e reconstruir meus objetivos. É você e tudo será por você.
Por você eu volto, tento mais uma vez, me esforço. Por você essas cinquenta páginas serão escritas.

Por e para você.

sexta-feira, 19 de agosto de 2016

A iminência de uma ruptura



Romper com seus hábitos, com suas vontades, com seus sonhos e desejos.

Todo mundo sabe quando um relacionamento não vai bem, seja ele amoroso ou amical. Mesmo que seja uma convicção íntima, pequena, quase invisível. Eu acho que todos nós somos capazes de sentir que algo está errado. A questão é querer ver ou se esconder esperando que tudo passe.

Eu gosto de me esconder. De fingir que nada está alí. Assim quem sabe não passa? Não, não passa. E por experiência, somente piora.  É querer resolver enquanto os problemas estão pequenos ou quando eles serão tão grandes que não poderão ser resolvidos, daí a necessidade de romper e recomeçar.

Talvez a segunda opção seja a maior representação da covardia, de não querer resolver nada para que tudo se resolva à sua revelia. Assim, ao menos, não foi sua culpa. Mas foi. Enfim, talvez não somente sua, mas sua também.

Eu sei de mim, sei que exteriorizar, ainda que difícil de fazer chegar as palavras às pessoas, me ajuda. Falar de mim, do que sinto, do que quero e do que não quero. Ajuda a organizar as idéias. Ainda que seja num monólogo ou em um diálogo com o meu cachorro.

Há pouco realizei que dentro de mim existe um enorme fluxo de pensamentos, incompletos, mal formados, caóticos. Pensamentos que querem sair todos ao mesmo tempo, criando um engarrafamento de idéias. O resultado é simplesmente não conseguir expressar a menor palavra. É simples, são tantas coisas que quero dizer, não consigo organizar o fluxo e acabo por não conseguir fazê-lo.

Quem me conhece sabe que muitas vezes fico calada. Quem já se relacionou comigo sabe que não consigo discutir relações. Somente meus amigos mais íntimos sabem o que penso e o que sinto. E ainda eles não sabem  por completo, exatamente por eu não conseguir organizar o trânsito dos meus pensamentos. Ou por não querer organizar. É aquela coisa de “já que sempre foi assim...”.

Por isto escrevo. Escrever ajuda a exteriorizar e rever o que sinto. E o que sinto neste momento é que grandes mudanças virão. Mudanças que desejei quase que secretamente, que quis e me arrependi de querer. Que acredito que possam ser necessárias para a minha própria reconstrução. Mas eu tenho medo.
 
É aquele medo que sentimos antes de uma grande decisão, quando não sabemos o que pode acontecer. Mas todos nós sobrevivemos. A vida não acaba quando um relacionamento acaba. A sua vida não acaba quando alguém sai dela. A vida se renova.

quinta-feira, 28 de julho de 2016

Desde quando sumi

Voltei. Não sei por quanto tempo, mas a verdade é que já tinha vontade de voltar e não passava ao ato.

Nesse meio tempo, eu juntei, eu separei. Eu adotei um cachorro e me tornei "uma daquelas pessoas que consideram cachorros como filhos". Eu deixei Paris. Eu deixei a Córsega. Me instalei em uma cidade à beira mar. Eu passei a gostar de andar por horas na natureza. Eu perdi meu medo de altura, comecei a fazer escalada e passei meu nível 1 em mergulho. Eu fui para Amsterdam e não usei drogas. Eu bebo menos e faço mais esporte. Eu me preocupo com minha imagem mas não ao ponto de viver por isso. Eu descobri o que é amar uma criança como se fosse meu filho. Eu descobri o que é eu odiar uma criança com todas as minhas forças e me sentir o pior dos seres humanos por pensar assim. Descobri minha vocação. Descobri o que quero e o que não quero da minha vida. Descobri que não gosto de comer carne e que não quero ser vegana. Aprendi a afirmar minhas opiniões. Aprendi a conversar com desconhecidos e até com aquela senhora que está no mercado ou no ônibus que só quer bater papo. Eu ganhei em paciência,  em idade e em cabelos brancos.
Posso dizer que me descobri durante esses longos anos de silêncio.
Eu mudei, eu amei, eu chorei, eu sorri.
Eu voltei.

domingo, 12 de junho de 2011