quarta-feira, 9 de junho de 2010

Até que o beijo os separe...

Não era ele namorado, possível marido, bom companheiro, alma metade. Era ser surgido da falta: necessidade dela de preencher o vazio de sua vida, de sublimar uma existência como todas as outras – cansaço dessa imanência humana, vontade que todos temos de transcender.

Era ele o príncipe encantado que sabemos que não existe e que, justamente, não deve existir para poder ser “encantado”, já que mesmo os príncipes de carne e osso tornam-se chatos se com ele dividimos nosso cotidiano enfadonho.

Teria sido, pois, em vão essa tortuosa espera - cinco meses, seis horas e cinco minutos – que se prolongavam em uma eternidade de expectativas que não encontram em medidas matemáticas o espaço certo da satisfação humana?

Sabia ela que não. Sabíamos todos nós.

A viagem, o silêncio, o telefonema, a ansiedade da chegada faziam parte desta áurea de encantamento em que banhamos nosso príncipe. Os contos de fada terminam no beijo, não há vida após o ósculo. Mas, já dizia o poeta, “que ele seja eterno enquanto dure”:

- Tanto tempo a tua espera!

- Estou aqui, prometi que viria te ver assim que saísse e assim o fiz, meu amor!

E os olhos dele eram só sorriso, pequenas brechas invadias pela luz azul dos dela. E aquelas mãos duras que cruzaram campos, salvando e enterrando homens, aquelas mesmas mãos se fizeram leves como pássaros lançando vôo, descolando-se do seu corpo-rocha e pousando suavemente no mar do rosto dela. E o leve roçar naquela superfície feminina, transformou-se, repentinamente, em um gesto faminto, da mão ao corpo, do vôo, ao pouso até o mergulho. O beijo alimento daquela fome, ânsia de sonho, vontade de transcender no corpo do Outro. Momento do desejo saciado e nada mais.

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