quarta-feira, 13 de abril de 2011

Amor

Ela passava o lápis preto no olho enquanto ele, sentado, a fitava com um olhar triste.
- Algum dia você me amou?
Ela parou o que estava fazendo, deu um pequeno suspiro ainda olhando para seus próprios olhos e virou para ele.
- Como assim?
- Assim, quero saber se algum dia você me amou como eu sempre te amei.
Ela pegou em cima da penteadeira seu copo, deu um gole como se juntasse forças para recomeçar aquela discussão.
- Se não tivesse te amado, jamais teria ficado com você. Jamais teria me casado com você. Jamais teria feito amor com você. Jamais teria vindo para esta casa.
- E você ainda me ama?
- Você sabe que não. Há muito não te amo mais, somente fico ao seu lado pois você me impede de seguir em frente.
Uma lágrima escorreu de seu rosto borrando a maquiagem que ela havia feito.
- Você sabe muito bem que eu não quero mais ficar com você, que não suporto mais seu cheiro e que somente a idéia de que você está perto de mim me dá nojo.
- Você acha que algum dia poderá voltar a me amar?
- Não. Jamais.

Ele se levantou, subiu as escadas em silêncio e trancou a porta assim que saiu. Ela permaneceu ali, presa no porão, acorrentada à única coisa que ainda poderia amar: seu próprio reflexo no espelho.

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