Retrato

Ela ouvia suas músicas preferidas enquanto olhava seu retrato pendurado na parede da sala. Uma boa seleção de Elvis a fazia pensar nele, em seus momentos juntos, na longa amizade que nutriam, no amor que sentiam um pelo outro.

Ela sabia que não poderia viver sem ele, não saberia por onde recomeçar sua vida. E sabia que ele também não poderia viver sem ela, por isso essas duas últimas semanas haviam sido tão difíceis para os dois. Estavam separados por causa do trabalho dele.

Separados por tempo indeterminado: ele teve que mudar de cidade e ela não podia largar sua família. Sua irmã, na verdade. Também não podia fazê-la seguir seus passos, ao menos não agora. Precisava terminar o ano para escolher uma nova escola, ou esperar que ela se formasse, o que levaria ainda dois anos.

Ele havia aceitado essa proposta por causa do alto salário, ela havia concordado que seria melhor para a vida do casal se ganhassem mais. Ela tinha um trabalho que lhe rendia bons frutos e que lhe permitia olhar por sua irmã mais nova. Ele ganhava bem, mas queria sempre mais.

Haviam se conhecido ainda na escola, se casaram ao final da faculdade e nunca tiveram filhos, a pequena irmã era como uma filha. Os pais das duas decidiram mudar de país, viver a vida que sempre sonharam, e ela concordou em se tornar responsável pela criança. Ele se sentia bem em não ter que se responsabilizar totalmente por outra pessoa. Ela se sentia bem em amar e cuidar de alguém.

Olhou para a janela, a chuva chegava. Sua irmã logo voltaria para casa. Suspirou e percebeu o quanto a casa ficava vazia sem ele. Sentia o cheiro da umidade chegando, das plantas no jardim. Apressou-se para fechar as janelas. Contemplou novamente a rua e sorriu.

Sim, sua vida era perfeita e ela era feliz por isso.