segunda-feira, 23 de agosto de 2010

O amigo

Há pouco ela começara a procurar os amigos de infância e adolescência. Aproveitava de seu trabalho para conseguir as informações que precisava: endereço, telefone, trabalho etc. Seu objetivo não era retomar contato com todos eles, fazia isso mais por curiosidade do que por necessidade. Gostava de saber no que haviam se tornado seus antigos companheiros.

Desde sempre ela era obcecada por guardar informações, sempre manteve uma lista de todos os colegas de classe, de esporte, de trabalho. Tudo documentado, arquivado por ano. Todas as modificações ela poderia encontrar pelos arquivos mantidos na internet. Achava incrível como as pessoas expunham suas vidas.

Ela mesma nunca havia feito uma página em sites de relacionamento. Mal usava programas de mensagens instantâneas se não fosse para falar com colegas de trabalho.

Mas sabia tudo sobre todos, exceto um nome da lista. Ele fazia parte do ano de 1989, formatura da faculdade. Não conseguia achá-lo em nenhuma base de dados que conhecia. E ela tinha acesso a todas elas.

Ficava pensando o que teria ele feito de sua vida, se estava casado, com filhos, onde trabalhava. Pensava consigo que ele não estaria morto, caso contrário ela teria achado-o na lista do IML, do exército, da marinha... Mas nada. Tal começou sua obsessão.

Todo dia antes de começar o trabalho, tentava em vão saber dele. Não achava nenhuma mudança de nome, nenhuma conta em banco, nada.

Naquela época eles eram grandes companheiros, fizeram os mesmos cursos na faculdade, iam aos mesmos bares, tinham o mesmo propósito de vida. Mas tudo acabou ao fim de 1989, quando se encontraram pela última vez.

Ela nunca se casou, começou a trabalhar logo após a formatura e se dedicou todo o tempo a isso. Seu trabalho era sua vida. Teve alguns amores, mas nenhum que conseguisse a afastar do seu propósito final.

Um dia o telefone toca, era uma jovem que solicitava sua presença no Hospital das Clínicas. Sem maiores explicações ela foi. Já estava acostumada com o trajeto de idas e vindas do hospital.

Identificou-se na recepção habitual e a levaram para a sala de autópsia. Perguntou ao legista o que a levava naquele lugar desta vez e ele disse que talvez ela pudesse responder. Entrando na sala encontrou na mesa um corpo de homem que não reconheceu. Questionou o delegado responsável pelo caso se havia realmente uma razão para ela estar ali naquele dia e ele respondeu mostrando uma foto.

Eram eles dois, no dia da formatura. Ela finalmente havia encontrado o nome que faltava. Com ele, disse o delegado, havia a carteira de motorista, com o mesmo nome que constava em sua lista, e a foto com dois nomes atrás, o do defunto e o dela. Nada mais. E o delegado esperava que ela pudesse ajudá-lo...

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