terça-feira, 1 de junho de 2010

A espera - 1

Por cinco meses ela esperou aquele telefonema.

Ela havia imaginado o que falaria quando atendesse a ligação. Ela havia imaginado que poderiam se encontrar por acaso no metrô, na rua, na faculdade (que ele nem sabia que ela fazia...). Que ele tentaria falar com ela por MSN ou skype. Ela esperava o telefonema, mas não acreditava que aconteceria.

E agora ela ouvia sua voz ao telefone.

Havia imaginado aquilo de tantas maneiras. Havia imaginado que ele ligaria e ela estaria longe do telefone ou que estaria no metrô e não ouviria o toque. Que estaria ouvindo música e pensando nele, imaginando que ele poderia ligar enquanto o telefone tocava e ela não atendia. Em todos os casos ele não deixaria recado e ela jamais saberia que era ele, afinal, ela nunca retornava ligações.

Mas hoje ela não estava pensando nisso. Ela estava fazendo suas coisas mundanas, comprando produtos de limpeza no mercado mais próximo, falando com sua melhor amiga ao telefone para combinar o horário do encontro naquela quarta-feira. Ela estava falando quando percebeu que tinha outra ligação chegando. Desligou com a amiga e atendeu.

Era ele.

Sua respiração parou, ela não sabia o que falar. Tanto tempo pensando no que diria e agora não conseguia falar.

- Alô.
-...
- Alô...?
- Oi, to aqui.
- Acabei de sair.
- Legal... Ta indo pra onde?

Ela tentava disfarçar a surpresa, o medo e a ansiedade que ficavam aparentes na respiração ofegante.

- Não sei ainda, queria te ligar e saber para onde você vai hoje. Ou amanhã cedo...
- Hoje volto pra casa e vou dar uma saída aqui perto, amanhã cedo deveria ir pra aula... Você chega quando?
- Se saio agora, de madrugada.

Ela não acreditava que ele ligaria. Ela não acreditava que ele se lembraria de tudo. Ela não acreditava que ele ligaria assim que saísse. Que ligaria para ela antes de qualquer outra pessoa.

- Você acabou de sair mesmo?
- Mochila nas costas. Queria saber aonde posso te encontrar.
- Te encontro na estação de trem...
- Vou chegar muito tarde, melhor eu te encontrar onde estiver.
- Ok.

E ela deu seu endereço sem saber o que esperar.

- Boa viagem.
- Merci. À três bientôt...

Ligou de novo pra amiga. Quase não conseguia falar. Se encontraram, beberam, imaginaram.

E ela esperou cinco meses e 6 horas.

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